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Brasília - 29 de maio de 2025 - 6:49h

Palestrantes do seminário do ICS analisam a transição ecológica do Clima

Foto: Reginaldo Pimenta/E-mundi
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2º dia do seminário “A Socioeconomia do Clima” reuniu especialistas para debater desafios da transição ecológica no Brasil

O 2º dia do seminário “A Socioeconomia do Clima”, realizado nesta segunda-feira (26) no Rio de Janeiro, aprofundou os debates sobre financiamento climático no Brasil rumo à COP30, que será em novembro de 2025, em Belém (PA). O evento, promovido pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e organizado pelo e-mundi (Encontro Mundial de Jornalistas) reuniu especialistas, representantes do agronegócio e lideranças da sociedade civil para debater assistência técnica, desmatamento e mecanismos financeiros para a transição ecológica.

Eduardo Bastos, diretor do Instituto Equilíbrio e da Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG), defendeu a necessidade de políticas públicas voltadas à regularização produtiva de pequenos agricultores, especialmente nos territórios mais sensíveis da Amazônia. Para ele, a ausência de apoio técnico e institucional tem levado ao que classificou como “desmatamento social”.

Eduardo Bastos, diretor do Instituto Equilíbrio e da Associação Brasileira de Agronegócio. | Foto: Reginal Pimenta

“Você vai mandar o Ibama prender um assentado que está sem assistência técnica? É uma sacanagem com ele. O próprio Estado não proveu, não pode prover assistência, e vai lá e condena? Esse, na minha opinião, é o grande desafio que a gente vai ter”, afirmou Bastos.

O especialista também criticou a criminalização generalizada do setor agropecuário e propôs uma atuação mais seletiva e eficaz no combate às ilegalidades ambientais.

“Um por cento dos produtores concentra cerca de 95% das emissões. É fácil fazer comando e controle: é pegar esse 1% que age de forma ilegal. Em última instância, tem que prender quem invadiu área que não deveria.”

Como proposta concreta para a COP30, Bastos destacou o Plano ABC+, que busca ampliar a adoção de tecnologias sustentáveis no campo.

“O principal projeto é o Plano ABC+, com meta de capturar 1,1 gigatonelada de CO₂. Isso não só zera as emissões do setor como gera excedente para compensar outros setores.”

Presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell reforçou o papel central da assistência técnica como gargalo estrutural na implementação de políticas climáticas, sobretudo entre pequenos e médios produtores rurais.

“A gente fala muito em financiamento, mas o grande gargalo hoje não é dinheiro — é assistência técnica. O Pronaf, por exemplo, tem recursos sobrando todos os anos, mas os pequenos produtores não conseguem acessar as tecnologias porque não têm apoio para implementá-las. Sem assistência, não tem restauração, não tem agricultura de baixo carbono, não tem transição possível.”

Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa. | Foto: Reginaldo Pimenta

Unterstell também destacou que o desmatamento no Brasil está, majoritariamente, desvinculado do agronegócio regular, reforçando a necessidade de políticas de comando e controle focadas.

“É importante dizer que 96% do desmatamento no Brasil são ilegais e não têm relação com o agronegócio regular. A maior parte das emissões está concentrada em 1% dos produtores. Então, o desafio está em identificar essas irregularidades e agir com comando e controle, sem criminalizar quem está tentando produzir de forma correta.”

Projetos bancáveis

Com décadas de experiência em instituições financeiras multilaterais, Josué Tanaka, membro sênior honorário do Imperial College London e consultor do C40, trouxe à tona a dificuldade de transformar metas climáticas em projetos tecnicamente viáveis e aptos ao financiamento.

“Muito se fala em falta de financiamento, mas o que escutamos com frequência do setor privado é: ‘temos recursos, mas faltam projetos’. Ou melhor: faltam projetos bancáveis. Todo prefeito tem uma lista de iniciativas maiores que o orçamento que possui — mas a pergunta que precisa ser feita é se esses projetos têm viabilidade técnica e financeira”.

Josué Tanaka, membro sênior honorário do Imperial College London. | Foto: Reginal Pimenta

Tanaka também defendeu o avanço de mecanismos financeiros inovadores, como a troca de dívida por natureza, especialmente para países do Sul Global com alto grau de endividamento.

“O mecanismo de troca de dívida por natureza é real, promissor e necessário, especialmente para países endividados que não têm espaço fiscal para investir em clima. A ideia é que parte da dívida seja reestruturada, e os recursos economizados sejam usados para financiar conservação ambiental. Mas é um processo longo e complexo, que exige negociações detalhadas com os credores.”

Na avaliação de Tanaka, o Brasil poderá exercer liderança no chamado “Road Map de Belém”, documento que deve nortear a arquitetura do financiamento climático global até 2035.

“Se quisermos chegar ao nível de financiamento necessário até 2035, precisamos de uma rota clara, com metas por fonte de recurso, setor por setor. […] A chave será encontrar formas de cooperação eficaz entre países do Sul global, como os BRICS.”

O seminário “A Socioeconomia do Clima” encerrou suas atividades nesta segunda-feira (26), deixando como legado importantes reflexões sobre o papel do agronegócio, da assistência técnica e do financiamento climático para a construção de uma transição ecológica justa e eficaz no Brasil rumo à COP30.

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