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Brasília - 23 de outubro de 2025 - 18:05h
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Apartheid no coração do Leblon

Foto: Divulgação
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Um movimento de moradores do Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro, está tentando barrar um novo empreendimento da Mozak, no número 115 da Rua Almirante Guilhem, que prevê apartamentos de cerca de 50 m² — todos avaliados em média em R$ 2,5 milhões. O curioso é o argumento usado: segundo os vizinhos mais exaltados, o prédio “vai trazer pobres para o bairro” e “transformar a região em um antro de prostituição”.

Em assembleias nos condomínios, alguns moradores vêm afirmando, sem constrangimento, que “pagam IPTU caro para manter a segregação” e que a nova construção “quebra a hegemonia rica” do bairro. Na prática, trata-se de um apartheid social explícito, travestido de preocupação urbanística.

À frente da mobilização está um condomínio importante, onde residem alguns dos articuladores — inclusive diversos membros de uma famosa família de doleiros, bastante conhecidos das páginas policiais.

Nos bastidores, o movimento escalou: circulam panfletos pelos prédios da Almirante Guilhem e arredores insuflando os moradores a participar de uma rachadinha para contratar um advogado criminal, com a intenção de apresentar uma “notícia de crime” na delegacia e assim tentar travar a construção.

O valor colocado na mesa impressiona: meio milhão de reais — tudo para impedir que pessoas “indesejadas” comprem imóveis de R$ 2,5 milhões e passem a morar no bairro.

A ironia é que, enquanto espalham faixas e panfletos afirmando que o novo edifício “vai estragar a estrutura do bairro de prédios pequenos”, alguns dos próprios articuladores são responsáveis pela construção de alguns dos prédios mais altos do Leblon, inclusive levantados na mesma rua, que é o caso de um dos líderes do movimento, dono de uma empreiteira conhecida no ramo de obras e serviços públicos. 

O discurso urbanístico serve, na verdade, como fachada para manter uma barreira social invisível, selecionando quem “merece” ou não morar na vizinhança.

Enquanto isso, as 13 unidades por andar, em nove pavimentos, seguem sendo comercializadas por valores que colocam o suposto “invasor pobre” no terreno da ficção. O que está em jogo é quem tem o direito de ocupar e circular no bairro mais caro do Rio, e até onde vai a disposição de alguns para preservar, a qualquer custo, um Leblon de muros invisíveis e privilégios explícitos.

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