Por Leandro Mazzini
A bela Paris se estende por 105 mil km² , onde 2,2 milhões de habitantes desfilam em suas calçadas, cafés e praças, nos quais parisienses e turistas de todo o planeta alternam suas refeições diurnas tradicionalmente entre 11h e 15h.
Então fica difícil de acreditar que dois parlamentares, membros da CPI mista do Cachoeira no Congresso Nacional em Brasília, se encontraram por acaso com o dono da Delta, Fernando Cavendish, na Semana Santa, duas semanas antes de a CPI ser aberta.
Justamente no mesmo restaurante? E no mesmo horário? Eram eles o senador Ciro Nogueira (PP-PI), o deputado Maurício Quintella (PR-AL) e o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE). Os dois primeiros, membros da CPI que seria aberta poucos dias depois. Um detalhe. Ciro Nogueira é amigo de Cavendish, foi ele quem ajudou a levar a Delta Construções para o Piauí.
O trio voltava de uma agenda oficial do Congresso na África e resolveu esticar o feriado na cidade, onde o voo fazia escala. Não se sabe ainda quanto tempo conversaram e o que falaram. Na CPI, recentemente, Ciro não defendeu nem acusou. Quintela pediu a convocação de Cavendish.
O restaurante seria o L’Avenue, na Av. Montaigne, perto dos Champs Élysées. Muito frequentado por brasileiros. Foi ali que foi visto almoçando, um mês depois, no dia 28 de Maio, o secretário de Trabalho do governo do Rio, Sergio Zveiter.
Se mesmo lá, é uma prova de que Fernando Cavendish, dono da construtora mais enrolada do país, com repasses de mais de R$ 30 milhões a empresas fantasmas do contraventor Carlinhos Cachoeira, não dava a mínima para a CPI. E continua, porque até agora foi misteriosamente blindado na comissão para não depor, com a ajuda da bancada do PT.
Na Av. Montaige circula a nata parisiense e dos turistas endinheirados. Além do L’Avenue, de propriedade dos irmãos Costes – onde os clientes vão para ver e serem vistos, além de desfrutar do bom cardápio -, existem os badalados La Maison Blanche, no topo do Theatre des Champs Élysées e com uma das melhores vistas da cidade.
A mesma avenida sedia também o Alain Ducasse, o mais caro de Paris, que leva o nome do dono, dos mais conceituados chefs do mundo. E o Le Relais Plaza, também no Plaza Athénée, um bistrô chique frequentado pela high society da cidade, com ambiente Art Déco.
Paris possui 6 mil restaurantes. O trio parlamentar se encontraria com Cavendish logo num deles, no mesmo cantinho, numa avenida de três quilômetros e dezenas de outros cafés. O destino, a se confirmar a tese do encontro fortuito dos políticos com o empreiteiro, é mesmo instigante.
1 comentário em “O estranho encontro de Paris”
Gosto de um pensamento realçado no budismo: nada acontece por acaso.