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Lula de farda, e o peso de uma estrela

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O general Gonçalves Dias foi a eminência parda do então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva nos oito anos de sua gestão. Onde se via Lula, nas suas numerosas passagens públicas em agendas oficiais e extraoficiais, as fotos denunciavam o semblante sério, preocupado e compromissado do oficial com a segurança do chefe.

Justamente por sua alta discrição neste período, a sombra e o silêncio atrás do falante mandatário, GDias, como é conhecido, ganhou o respeito de sua categoria, dos políticos, e principalmente dos jornalistas. Com quem não falava, mas indicava respeito. E isso foi recíproco.

No entanto, justo na hora em que não devia falhar, diante dos holofotes, dos jornalistas, da vitrine nacional, uma atitude derrubou o mito e se revelou banal, ingênua. Desnudou o homem atrás da farda militar.

Acostumado nestes oito anos a ver o chefe cair nos braços da multidão heterogênea e eclética que encontrava, Gonçalves Dias parece ter se travestido do perfil popular de Lula à frente da negociação com os policiais grevistas na Bahia. Por ser considerado ali o homem de Lula, e com a estrela adicional no ombro concedida pelo ex-presidente, GDias deixou-se encantar pela visibilidade, pela simpatia dos que o admiram, e a situação se inverteu. Foi derrubado pelos grevistas.

A situação era digna de cadeia para todos os amotinados, e só GDias não percebeu isso. Durante sua negociação, deu-se entrada de comida, dezenas de parentes, amigos e policiais furaram a barreira militar e invadiram a Assembleia Legislativa. Homens armados ocuparam o local, fizeram crianças e mulheres de escudos, protagonizaram desordem interna e externa – pelo celular o policial líder do movimento ordenou atentados na cidade – e impediram não só os deputados de trabalharem, mas também o Judiciário, o governo e todas as secretarias do estado, porque o centro administrativo ficou fechado.

A imagem do general recebendo sorridente, e depois com olhos marejados um bolo de aniversário, presente dos grevistas, causou revolta na Caserna. A consequência mostrou que o oficial alçado a general quatro estrelas pelo presidente no último ano de governo,  sem ter ido a uma guerra, sem experiência em crises, não foi aceito pelo Comando do Exército.

O desembarque de mais 400 militares em Salvador e do comandante militar do Nordeste, o general Odilson Benzi, fizeram GDias cair na real. E enfim endureceu-se o diálogo, cortaram água e luz e enfraqueceram os amotinados.

Contraditoriamente, a História recente do Brasil nos entrega como os papéis se perderam na confusão dos poderes. Em 1968, no Congresso da UNE, mais de mil estudantes foram detidos pela polícia paulista em Ibiúna. Em setembro de 1977, o coronel  Eramos Dias invadiu um encontro de estudantes  na PUC de São Paulo, sua tropa cercou o local, ele subiu à tribuna e soltou “Tá todo mundo preso!”. Em ambos os casos, não havia pessoas armadas, crianças, e ameça real de desordem nos serviços públicos.

O caso da Bahia é vergonhoso, tal como o tratamento brando dos negociadores dado a ele desde o início.

A experiência militar externa do general Gonçalves Dias foi desastrosa, é fato. O que não é demérito para o homem competente que ele mostrou ser durante oito anos ao lado do chefe maior do Estado. Apesar de toda a trajetória, GDias não estava preparado. A foto revelada denota o peso da quarta estrela no uniforme.

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